Na última terça-feira, dia 22 de maio, o contraventor Carlos Cachoeira, saiu do presídio da Papuda para depor no Congresso Nacional, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga sua relação com políticos.
Cachoeira, utilizando de dispositivo constitucional, se manteve calado.
“Esse direito está sendo exercido aqui de forma degenerada, não para amparar um inocente, mas para que o acusado, calando, não se ‘autoincrimine’, não faça ‘prova contra si mesmo’”, afirmou na sessão o líder do PSOL, deputado Chico Alencar.
Na opinião de Chico Alencar, o silêncio de Cachoeira agrega às provas existentes. “Quero agradecer o silêncio do Sr. Cachoeira, pois, com isso, ele confirmou o que já temos, a partir dos autos do processo e dos depoimentos dos delegados das operações ‘Vegas’ e ‘Monte Carlo’: o Sr. confirmou que praticou, com seus sócios do mundo político e empresarial, corrupção ativa e passiva, peculato, evasão de divisas, contrabando, sonegação fiscal, violação de sigilo funcional e formação de quadrilha”.
Leia a nota do deputado Chico Alencar.
1. A linha do silêncio absoluto inaugurada pelo ‘capo’ Carlos Cachoeira foi quebrada por Vladimir Garcez, figura chave na organização por seus vínculos negociais e políticos (presidiu a Câmara Municipal de Goiânia). Na sua defesa inicial, único momento em que falou à CPI, cuja transcrição foi por nós solicitada, podemos detectar, após cuidadosa leitura, alguns aspectos muito importantes:
a) Garcez é expressão viva do consórcio empresarial e criminoso Cachoeira/Delta. Declara, textualmente, que tinha contrato para prestar ‘assessoria’ à Delta – por ter contatos com os governos municipal (de Goiânia), estadual (Goiás) e federal – e também era contratado para ‘assessorar’ o Sr. Carlos Augusto Cachoeira. ‘Acumulava’ funções em empresas que cada vez mais revelam-se ser um conglomerado. Recebia pelos serviços R$25 mil por mês;
b) Ele reconhece a prática de amplo tráfico de influência, ‘orientando e dando informações às pessoas que compunham os vários órgãos’. E, ‘sempre procurado para conseguir emprego nos vários governos’, fazendo indicações, ‘buscando colocar pessoas’ – embora ‘não tenha conseguido as nomeações que falaram por aí’;
c) A fantástica transação imobiliária da mansão de R$1,4 milhão do governador Marconi Perillo, ‘que me disse que estava vendendo a casa’, merece análise acurada, tamanha a rede de negócios e favores que envolve - dos seus ‘patrões’ (Claudio Abreu/Delta e Carlos Cachoeira/Vitapan e outras) à nova senhora Cachoeira, passando pelo milionário professor Walter Paulo, dono de Universidade, com cheques nominais a Marconi, cujos emitentes ele ‘não sabe quem são nem perguntei de quem Claúdio recebeu’.
2. O PSOL detalhou, através do senador Randolfe Rodrigues, o que apurou na farta documentação à nossa disposição: transferência de R$ 40 milhões da Delta para contas laranjas de Cachoeira e outras empresas a ele vinculadas, efetuadas em agências bancárias do Rio de Janeiro (ag. Rio Branco e Assembleia), com muitas parcelas menores que os R$ 100 mil – para evitar análise do COAF. Cumpulsar os recebedores desses recursos – até aqui, listamos 34 - com doações de campanha também será muito importante. A indisponibilidade dos bens dessa empreiteira corrupta, pedida há pouco por integrantes da CPI na 14ª VF, é um imperativo.
3. O ‘acordo de procedimentos’ celebrado por PT, PMDB e PSDB, o núcleo majoritário da CPMI, ficou evidenciado hoje no seu significado maior: trata-se de um ‘acordão’ na linha do ‘não incomoda os meus que eu não cutuco os seus’. Deixou-se para 3ª o que, por elementar, poder-se-ia ter votado hoje: a quebra do sigilo da Delta nacional e a convocação de governadores. Surpreso com essa possibilidade, esse ‘campo majoritário’, que supera a dicotomia governo X oposição, entrou em ação rapidamente, para evitar essa apreciação, como se em mais 4 dias algo pudesse ser alterado. Serão 4 dias de amplas negociações e avaliação das blindagens possíveis, durante os quais muita água vai rolar dessa ‘cachoeira’, correndo para o delta do rio mais caudaloso da tradição política brasileira: a conciliação das elites no poder.
OBS.: Do ponto de vista do método de investigação da CPMI, esses dados confirmam que nossa tarefa primordial é examinar, à exaustão, os documentos disponíveis, minimizando a importância dos depoimentos (que, de resto, os convocados têm se recusado a dar).
Chico Alencar – líder do PSOL na Câmara dos Deputados.
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