Uma Vida de muita dedicação e trabalho
Valentim Antonio Broderhausen
“Capacete”
No século passado nos idos da década de cinqüenta, um menino que se chamava Tim brincava com o capacete do tio que prestava o serviço militar. Era uma época em que a televisão ainda não havia chegado a nossa cidade. O lazer das pessoas consistia em acompanhar pelo radio as famosas comédias onde se apresentavam Adoniram Barbosa e tantos outros comediantes que faziam sucesso na época.
Brandão Filho apresentava nas ondas do radio o programa “As aventuras de Tim capacete“. Daí para o apelido foi um passo. O menino chamava-se Valentim e vivia dia e noite a brincar com o capacete do tio.
Nascido em nove de Julho de 1947 em Itápolis e filho de descendentes italianos e avô paterno alemão, cujo pai também itapolitano de nome Euclides Broderhausen e mãe também nata de nossa cidade Ana Ometto Broderhausen não eram figuras abastadas mas sim pessoas que lutavam com dignidade para ganhar o pão. O pai era gerente de uma padaria local e já aos cinco anos Valentim subia num banquinho para ajudar a enrolar os famosos pães cruzeiro.
Com dez anos começou a trabalhar lavando peças na oficina mecânica de Jorge Lilischkies. Quando a oficina fechou foi para a padaria da qual o pai era gerente para ganhar o salário chamado na época de “salário de menor”, não satisfeito com os rendimentos, trabalhava por dois períodos para receber o salário integral.
Da padaria foi trabalhar na empresa Santa Edvirges de propriedade de Ricardo D’Agostinho e Stefani e de lá para uma indústria de João Pereira da Costa, a indústria Jamp que fabricava engenhos de cana de açúcar e que lidava com fundição e torno com ferro gusa. A empresa se localizava na Rua Prudente de Moraes na altura do numero 424, e pudemos notar na voz e nos olhos de Capacete um carinho especial por essa lembrança.
Com a falência da empresa e tendo deixado um histórico de capacidade, eficiência e dedicação, foi recontratado para a empresa de Ricardo de D’Agostinho. Seu próximo trabalho foi no Empório Tupi, cujo proprietário era o senhor Hipólito Julliani e de lá lhe surgiu a oportunidade de montar o seu próprio negócio.
Comprou o Armazém em oito de Julho de 1968 e até os dias atuais mantêm seu negócio no mesmo local.
Como sugestão de amigos foi montada junto ao armazém uma churrascaria que com chope funcionava todas as noites, de segunda a segunda. O trabalho incansável de Valentim só poderia resultar em sucesso. Chegava a vender seis barris de chope em uma única noite. Mesmo assim sua luta era permeada de imensas dificuldades; Não possuía automóvel para o transporte das mercadorias e nem câmara fria para armazenar as bebidas. Ainda assim seu estabelecimento era freqüentado pelos figurões da época. Pessoas de extrema importância para a sociedade da época como Emilio Ferrarezi, Guiomar Semeghini, Igino Gomes, Tamerick, Álvaro Del Quêrcio, Hélio Ricoy e tantos outros que contribuíam para o progresso da cidade. O local foi se tornando, e o é, até hoje ponto de encontro da gente de Itápolis. Vale ressaltar que o Empório abria aos domingos religiosamente às seis horas da manhã.
Em seis de Setembro de 1971, casou-se com a professora Oneide Aparecida Carlos Broderhausen, as quais tiveram cinco filhos e que por um golpe do destino, duas meninas vieram a falecer. Deus permitiu que o casal pudesse criar com saúde e vigor Ana, que hoje leciona piano em nossa cidade e é uma expert no campo da música.
Rafael que também reside em Itápolis e auxilia o pai nas lidas com o armazém.
Ubiratam, analista de sistemas que reside e exerce sua profissão na cidade de Campinas.
Dois netos simpáticos e carinhosos Fabrício e Isadora garantem a sobrevivência dos galhos dessa arvore família que nos recebeu com carinho e muita educação.
Capacete narra que até os dias de hoje “teima” em manter o Empório nos moldes antigos. Faz questão de manter a tradição a exemplo de mestres comerciários que existiram em Itápolis, como o senhor Hipólito e também o senhor Antonio Biella, que com oportuna dedicação mantiveram durante suas vidas um exemplar atendimento na área de comercio de secos e molhados.
Relembra o tempo da caderneta, onde a confiança imperava entre o vendedor e o comprador. O bairro onde está o armazém até hoje, na época, era de pessoas humildes, basicamente trabalhadores rurais. Faltava infra-estrutura, asfalto e tanto mais para um progresso acelerado. Somente sua determinação e boa vontade em superar obstáculos fizeram desse itapolitano, querido por todos nós, um homem vencedor e honrado.
Caso você queira um pedaço de fumo de corda, uma pimenta do reino moída na hora, um café da mesma forma, uma lingüiça de porco caipira, um legitimo bacalhau norueguês, uma porção de tripas e tantos outros produtos que não são encontráveis em qualquer lugar, pode procurar com o nosso querido Capacete ou seu filho Rafael.
Terminamos nosso trabalho de entrevistadores com a alma leve e com a certeza de que pessoas como o senhor Valentim, Dona Oneide, seus filhos e netos fazem a historia de Itápolis ter sabor de trabalho, amor, dignidade e honradez.
Nossa gratidão por vossa colaboração para o desenvolvimento e vida à nossa cidade.
Sem esquecer por ultimo um pedido de Valentim a nossa coluna “Gente que fez”, que fossem homenageadas três pessoas que lhe são afeitas ao coração: João Pereira da Costa, industrial; Vicente Nigro, o primeiro a fazer bombas d’água em Itápolis; E João Kock, fabricante de carrocerias, itapolitanos ilustres, que oportunamente estaremos registrando em nossas paginas.
"A minha vida se confunde com Itápolis!"
Comendador Romeu Bonini
Natural de Tapinas, nascido a 05 de outubro de 1929, a vida do Comendador Romeu Bonini é sinônimo de persistência e obstinação. Sua história se inicia por volta de 1880, quando a família Bonini - oriunda da província italiana de Mântova - chega ao Brasil por volta de 1880 e se instala em Dobrada, cidade próxima a Araraquara, no interior do estado paulista.
Na época, o patriarca, Próspero Bonini, e seus familiares trabalhavam na lavoura de café. Ainda bem jovem, casa-se com Angela Semeghini e fixam residência no Distrito Pedrense de Tapinas na Fazenda Cachoeira. Dona Angela falece no parto do 11.º filho. Eis que Odoni Bonini, o filho mais velho deles, juntamente com sua esposa Letícia Citelli, assume a tutela dos irmãos mais novos. Da união de Odoni e Letícia, nascem Euclides, Angela, Ivone, Romeu, Darci e três outros irmãos falecidos durante a infância.
Romeu Bonini passa a morar com sua tia Maria – esposa de José Nori - e desde muito jovem entrega leite de porta em porta para famílias itapolitanas, muitas delas abastadas. Forma-se em 1946, aos 16 anos, e se muda para São Paulo orientado pelo pai - um homem severo, porém de visão futurista - para continuar seus estudos à noite sem deixar de trabalhar durante o dia.
Sob esse ideal foi o primeiro dos irmãos a terminar o ensino secundário. Na capital, exerce seu ofício de contador e posteriormente conhece e se casa com Wilma Pêra. Em 1953, seu cunhado Ildo Pêra, torna-se fabricante de equipamentos pesados - caldeiras, tanques e vasos de alta pressão - para a indústria petrolífera então emergente.
A prática no setor industrial propicia ao jovem Romeu Bonini o interesse no conhecimento do setor alimentício, o qual resultou na posterior ideia da industrialização e do comércio de óleo comestível.
Em Itápolis houve êxodo rural por conta da crise relacionada ao preço do café e também à visão individualista dos imigrantes italianos, convencidos de que a indústria traria prejuízos à mão-de-obra na lavoura. Entretanto, Odoni Bonini gostava muito de Itápolis e nunca sairia daqui. Obstinado, convida seu filho Romeu para fundar uma empresa no município. Nesse intuito, Ildo Pêra vinha aos finais de semana à cidade orientar a construção.
Em 1964 nasce a Companhia Itapolitana de Óleos Vegetais S/A em sociedade de 50% com Décio Perrone Ribeiro. Posteriormente à fundação, seu irmão Euclides Bonini casa-se com Elza Vicentim e passa a fazer parte da sociedade com 20%. Os demais irmãos não deram crédito ao investimento. Em 1974 fundam a Triângulo Alimentos Ltda. que atualmente produz gorduras vegetais hidrogenadas e derivados.
Nesse momento, Itápolis era o 3.º maior município do Estado de São Paulo e mesmo assim Romeu teve que superar desafios como a falta de infraestrutura industrial na cidade. Importa mencionar que Dona Wilma, em todos esses anos, mostra-se uma grande companheira e mãe e sempre apoiava Romeu nas adversidades. Atualmente completam 50 anos de casamento.
Hoje a empresa é capitaneada por Eduardo Bonini, filho de Euclides, ao lado de Romeu Bonini Júnior.
Também é impossível separar a figura carismática de Romeu Bonini da Maçonaria, discreta entidade filosófica, filantrópica e progressista que fomenta os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade bem como a cultura em prol do desenvolvimento dos povos e do especial carinho para com as crianças.
Foi iniciado em 1972 em São Paulo e em 1978 reabriu a Maçonaria em Itápolis. Em 1986 foi elevado ao grau máximo da instituição: o de Inspetor Geral (grau 33º).
Somando-se as incontáveis e merecidas homenagens e comendas recebidas no transcorrer da vida, quer seja pelo histórico de empreendedor visionário, quer seja pelo eminente filantropo que é, aos 16 dias do mês de dezembro de 2010, em Brasília-DF, recebe do Conselho da Ordem do Congresso Nacional, a Medalha da Ordem do Congresso Nacional que conferiu a ele o Grau de Cavaleiro, como reconhecimento do Poder Legislativo do Brasil entregue pelo Grão-Mestre, Presidente do Congresso Nacional e ex-Presidente da República, senador José Sarney.
Esta rara e exclusiva condecoração é direcionada apenas a pessoas dignas de reconhecimento especial por relevantes serviços prestados ao país. Todos os itapolitanos devem se sentir orgulhosos deste grande conterrâneo.
Por Andréa Cristina Gazetta e Leandro Pires Garcia Nardini
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Aquele que leva Itápolis
Luis Carlos Boralli (Ziza)
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Aquele que leva Itápolis
Nasceu o dia 02 de junho de 1.956, e junto com a alvorada do mesmo dia, Itápolis ganhou de presente o filho de um agenciador e de uma dona de casa, o menino Luis Carlos.
Seu pai, Luis Boralli, casado com Carolina Ida Westickckco, de descendência austríaca, muito se empenhou para transmitir ao jovem filho a luta pela sobrevivência, a perseverança e o amor ao trabalho. Já aos nove anos o pequeno Luis catava ossos, ferro velho, esterco e transformava esses elementos em dinheiro. Não satisfeito e com tino comercial apurado, aumentava seus rendimentos vendendo frutas na feira e de porta em porta.
Exemplo para todos nós que acreditamos na pungência e determinação do homem itapolitano, em março de 1997 com a aposentadoria do pai, assumiu a empresa, de onde 100% de seu salário vinha das comissões. Os vencimentos eram tão pequenos que Luis Carlos resolveu voltar a catar esterco. "Eu preferia catar esterco do que trabalhar por comissão" .
Percebendo seu potencial, comunicou a seu pai a intenção de trabalhar sozinho. Teve como resposta: "Quer ser homem, então vá!" Em dez minutos arrumou a sua mala, e sua mãe lhe deu uma manta, um garfo, uma colher, uma faca e um prato. " - O prato se quebrou, a faca não sei onde foi nem a colher, sobrou o garfo que ainda guardo..."
E sobrou a sua deteminação, amigo Ziza Boralli.
Passou a residir na Rua Francisco Porto nº. 552. Esta época não lhe traz boas recordações, afinal foi um tempo em que passou sozinho tomando banho na torneira, só contando com agua fria.
Trabalhou 18 anos como agenciador. Em 1985 ficou sócio da empresa que o agenciava. Em 1990 abriu precariamente e sem endereço, a Transportadora Ziné cujo nome viria da junção de Ziza e Néca, apelido de sua esposa, a professora Maria Bernadete Camargo.
"- O contador Zé Pavan me perguntou o porquê deste nome. Mas pobre nem nome tem, só tem apelido!"
Ziza é de uma família de cinco irmãos, José (Zé do Pelo), Devair, (in memorian), Shirley, e Roberto.
Tem tres filhos, Fernando de 27 anos, engenheiro da computação e que reside em Santo André, Igor de 22 anos que cursa o 5º ano de veterinária, e a raspa do tacho, Luis Carlos Filho, de oito anos, e que fará aniversário dia 30 de novembro.
"- Bençãos são a minha esposa e meus filhos". Ziza é família.
Sua empresa cobre uma pequena area regional, mas é capaz de se sustentar. Ziza nos cita nome a nome cada um de seus funcionários, treze em São Paulo, nove em Itápolis e dois em sua chácara. "Quando o vento do Sul acabar com as pétalas das rosas, novas rosas nascerão... Devo chorar o destino das rosas ou o meu destino? Quando o tempo trouxer novas rosas, nenhuma será como aquelas" nos cita Ziza, parte do poema de Omar Kahian.
O canto dos pássaros embalou a nossa conversa, ao redor do agradável recanto em que nos encontrávamos, e diversos comedouros com farta alimentação, atraíam as aves. A natureza que nos cercava, tornou agradável aquele pôr do sol enquanto nos despedíamos do humilde e amigo Ziza Boralli.
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O Fazedor de telhados
Pedro Guardia
Difícil saber quem não o conhece, pois esse homem é uma lenda viva: irreverente, alegre, bondoso e, acima de tudo, amigo.
Nasceu em 21 de dezembro de 1959, filho de Octávio Guardia e Aparecida do Carmo Guardia. Herdou o nome do avô.
O número de casas, as quais Pedro executou o madeiramento, são incontáveis. Seu trabalho não se restringe somente à cidade de Itápolis. Muitos telhados foram construídos no Estado de Goiás, nos Estados de Mato Grosso e em inúmeros municípios do Estado de São Paulo. Todos foram propagandeados pela sua capacidade e esmero na execução desse ofício. Aprendeu cedo a arte de trabalhar a madeira e seu instrutor foi Sanitá, que havia aprendido com o velho mestre Casteletti.
Possui Carteira de Trabalho registrada desde seus catorze anos, e desde que iniciou em seu nobre ofício, as mãos de Pedro moldaram mais de mil telhados!
Possui Carteira de Trabalho registrada desde seus catorze anos, e desde que iniciou em seu nobre ofício, as mãos de Pedro moldaram mais de mil telhados!
Sempre teve uma vida voluntária: ajudava nos carnavais da cidade junto à execução dos carros alegóricos e na bateria. Doava o seu sangue: quarenta e nove vezes consecutivas. Somente parou em consequência de uma Diabetes. É voluntário na Casa de Apoio ao Câncer em Barretos.
Em 2000, participou ativamente do Primeiro Encontro Motociclístico de Itápolis.
Pedro não se casou, porém não se calou. Ao que parece, virão novidades por aí.
Quando o visitamos, estava imbuído em arrecadar doações e mantimentos para os flagelados da região serrana do Rio de Janeiro.
Pedro: sua bondade e capacidade de ajudar fazem de Itápolis uma cidade melhor. Obrigado.
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A Arte da Faca
Emílio Bassi Neto |
Sabres de motosserra, molas de Kombi, discos de grade, nacos de aço cirúrgico, forja, tanque de têmpera, politriz, furadeiras, esmeril, guilhotina, morsas, serras diversas, esmerilhadeira, celeron, fibras.
A paixão aliada à instrumentação estampa a vocação de Emílio Bassi Neto.
A paixão aliada à instrumentação estampa a vocação de Emílio Bassi Neto.
Nascido em 28 de março de 1945 na fazenda de Samuel Delmuti (antiga estrada de Itajobi) um dos filhos de 13 irmãos gerados de Paulo Bassi, natural de Itápolis e Lazara Honório da Silva, filha de Ibitinga.
Hoje conta com 25 anos de ofício e milhares de facas e canivetes espalhados por todo o território Nacional.
Do Oiapoque ao Chuí sempre haverá um canivete levado ou enviado por alguém que foi feito por Sr Emílio na cidade de Itápolis.
O surpreendente de tudo é o exemplo maior digno de aplausos e a capacidade deste itapolitano em superar obstáculos. Aprendeu o ofício, a arte da cutelaria como é chamado o trabalho de fazer facas, por conta própria em livretos do INSTITUTO UNIVERSSAL BRASILEIRO, que lhe fora enviado pelos correios. Livreto que guarda até hoje e exibe com orgulho e amor.
Amor pela chance conquistada.
Orgulho por ter encontrado uma vocação.
Amor e orgulho pelo o que faz.
Casou-se com Aparecida Maria Salatim e teve com ela 2 filhas que já lhe deram 1 casal de netos.
Uma das filhas se interessou pelo ofício, mas logo desistiu pela complexidade do trabalho.
Hoje o Sr. Emílio exerce uma função paralela trabalhando no clube de campo de Itápolis e diz que gostaria muito de encontrar alguém que com vocação e amor aprendesse o que ele sabe e continuasse o trabalho.
Na região não há mais gente que exerça tal arte. O ultimo cuteleiro, conhecido do Sr Emílio, na cidade de Borborema, encerrou suas atividades recentemente.
Quem quiser encontrar o simpático e sorridente cuteleiro de Itápolis, filho de italianos Sr. Emilio Bassi Neto, deve seguir pela Rua Francisco Antonio de Abreu no sentido da direção oeste, Vila Santos e defronte ao Tiro de Guerra encontrará na calçada plantado um pé de cacau nessa casa, reside um honrado trabalhador e sua família.
Postado por Renan Gouvea
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A arte do Seleiro
Eraldo Caspani
Malhar a pele, costurá-la, transformá-la em assento. Fazer do escudo natural do animal a proteção do homem. Essa sempre foi a função de Eraldo Caspani.
Itapolitano nato, nascido por aqui em 16 de outubro de 1940. Filho de Severino Caspani e D. Luiza Fenile Caspani, ambos agricultores, ele de Itápolis e ela da cidade de Ibaté.
Residiram na zona rural, mais precisamente no bairro da Onça. Em 1962 aprendeu o oficio com João Vicentim e de aprendiz passou a mestre, exercendo com primor a arte da Selaria.
O encontramos agora em meio a meias lua, suvelas, espacuchins, vazadores, grosas, talas, compasso... Instrumentos que ainda manipula no conserto de bolsas e sacolas de couro.
Reside atualmente na Odilon Negrão 1237, e nos recebeu com extrema educação e carinho. Mostrou-nos não somente os instrumentos de seu trabalho, mas também nos abriu um baú de recordações de um tempo vivido em Itápolis e por Itápolis.
Falou-nos da saudosa Selaria Paulicéia, local de seu trabalho e também ponto de encontro de amigos que todos os dias batiam ponto: Fuad, Vanderlei Pisanelli (Frangão), Adalberto Torres (Galego), Chitão Camargo, Odair Ambrósio Curioni (o Dário), Lucilo Men, Lucilo Francischetti, Sergio Del Vone, Pedro Guardia, Juca Massari, Carlos Fontes, Oswaldo Malaquias, José Antonio Juliani (Zé Vermelho), José Pace, Dultra... e tantos outros que permanecem guardados no peito como amigos de boas horas.
Contou-nos das troças e brincadeiras, e José Juliani que nos acompanhava, salientou o fato de que Seu Eraldo, antigamente, organizava doações de sangue ao Hospital de Itápolis e de toda a região, conclamando seus parceiros.
O Dr. Melucci, contou-nos Seu Eraldo, muitas vezes na necessidade nem esperava o prazo de 90 dias para uma nova doação. Ela acontecia em prazos menores com a garantia do ilustre médico.
Suas lembranças aportaram em 1974, ano da I Festa do Peão de Boiadeiro em Itápolis, onde o fruto de seu trabalho rendeu 12 milhões de cruzeiros, saldo suficiente para repor o estoque da loja que ficou completamente vazia de mercadorias e que ainda sobrou-lhe a quantia para adquirir um Fusca semi-novo que fez a alegria de S. Eraldo.
Na remota história de nosso município, lembra-nos do tempo em que os animais eram usados pela Destilaria Malosso para a lida da cana-de-açúcar e da fazenda Marquês que somente tinham como forma de tração animais e que ambos eram os principais consumidores de seus produtos.
Depois de 39 anos de ofício, hoje, acredita que a profissão esta se acabando. “Não há mais lida; Os animais foram substituídos por veículos e máquinas; mas valeu a pena”. Se preciso for S. Eraldo, mesmo aposentado, tem a disposição para fazer um bom arreio para cavalos, uma seleta, um cutrano, um basto e até mesmo uma baldrama ou um pelego.
Lúcido e cordial, nos atendeu com carinho, e nos fez conhecer o valor daqueles que fazem a nossa história, com trabalho e zelo.